O falecido Dr. Mário Soares foi muito atacado por comentadores comunistas porque o filho, João Soares, escreveu que a II. Guerra Mundial começou há cerca de 81 anos atrás com o apoio da URSS de Estaline, referindo-se ao tratado de não agressão e delimitação de esferas de influência assinado por Ribentrop e Molotov, ambos responsáveis pela política externa da URSS e da Alemanha Nazi.
A fúria de alguns militantes comunistas tem a ver com a sua ignorância da geografia de ambos os países e da suposição que pode haver uma geografia ideológica e uma inerente geostratégia também ideológica.
Não sendo assim, não há razão para um militante comunista se sentir ofendido porque Estaline não queria entrar em qualquer guerra e, nesse aspeto, seguiu uma linha de rumo iniciada por Lenine quando em 1917 assinou em Brest-Litovsk um cessar fogo e tratado de paz com a Alemanha imperial do Kaiser.
Para Lenine, a Paz era indispensável e imediata porque o povo russo não aguentava mais os milhões de mortos e a fome resultante da mobilização dos camponeses e trabalhadores rurais mais jovens para irem combater numa guerra sem qualquer necessidade. Em 1914, a Rússia do Czar entra na guerra contra a Alemanha do Kaiser aliada ao Império britânico e francês. No início, quando a Alemanha tentava derrotar rapidamente a França, deixando a fronteira oriental menos guarnecida, o exército russo invade a Alemanha e entra pela Prússia até Tanenberg onde sofreu uma derrota total, isto quando na frente francesa, os alemães já tinham falhado a conquista de Paris e as duas potências entrincheiraram os seu exércitos, criando uma guerra relativamente parada. Isso permitiu aos alemães deslocarem forças para o lado oriental e derrotarem em várias batalhas os russos até que ambos se entrincheiraram numa longa linha que ia do Mar Báltico até quase ao Mar Negro.
Estaline sabia disso, naturalmente, e não queria uma repetição, até porque desconhecia que a França ia soçobrar rapidamente depois de um ano de guerra parada denominada pelos franceses de “drole de Guerre” sem grandes batalhas ou invasões.
Nenhum comunista pode sentir-se ofendido por Estaline, por menos que se goste dele, não querer entrar numa gigantesca guerra, acabando por entrar porque o facínora germânico num ato de locura invadiu a URSS naquilo que designou de “operação Barbarossa” e produziu de imediato o auxílio gigantesco à URSS por parte do Reino Unido primeiro e dos EUA depois que ajudaram os soviéticos com tudo desde as botas aos caças rápidos e armamento pesado, máquinas ferramentas, comboios, muita comida, etc.
Em 1939, a URSS não estava ainda em condições de entrar numa guerra, mas Estaline cometeu erros estratégicos no seguimento do Tratado de Não Agressão com a Alemanha. Também invadiu a Polónia e as Repúblicas Bálticas e colocou as suas melhores tropas concentradas no pequeno território da Polónia Oriental e na fronteira russa anexa em vez de criar um distanciamento de 100 a 200 km para permitir organizar contraofensivas nas linhas de abastecimento das forças nazis e noutras. E devia desviar o vetor bélico alemão que se dirigia a Moscovo de modo a dispersar as suas tropas por várias frentes.
Tal como Lenine, Estaline e depois Maozedung era pacifista geográficos, isto é, governavam espaços geográficos de tal maneira grandes que não necessitavam de quaisquer territórios exteriores.
Em 1939, Moscovo era sede do maior estado do Mundo com 22,402 milhões de km2 e uns 250 milhões de habitantes, umas 2,5 vezes a área dos EUA e quase 55 vezes a da Alemanha. As fronteiras da URSS mediam 62.710 km. A sua principal linha de comboio herdada do czarismo prolongava-se por mais de 9 mil km, indo de Leningrado a Vladivostok no Mar do Japão.
Estaline pugnava pelo comunismo num só país em controvérsia com Leo Trotsky que defendia a revolução mundial, mas que acabou por ser morto pelo agente do NKVD de alcunha Mercader na cidade do México onde se tinha refugiado.
Esse pacifismo que eu designo por geográfico permaneceu até hoje e mantém-se com Putine e com os dirigentes chineses e americanos, apesar de muitos desentendimentos e da corrida aos armamentos, mas durante 75 anos ninguém ultrapassou verdadeiramente uma linha vermelha. Os americanos e russos não quiseram morrer por causa de um ditador barbudo em Cuba, não tendo passado a manobra cubana de um modo para os americanos retirarem os seus mísseis nucleares postados na Turquia e os soviéticos também desmontarem os mísseis que tinham colocado em Cuba. A ilha não valia uma guerra, como hoje a Ucrânia e a Crimeia não valem uma guerra, apesar de estarem lá uns chamados separatistas da região de Donetsk a travarem uma espécie de guerra inútil que só causa mortes e criou sanções à atual Federação Russa que já não tem a área da antiga URSS, mas Putin ainda controla 17,098 milhões de km2 ou quase o dobro da área dos EUA e conta com 150 milhões de súbditos obedientes.
As três grandes potências do mundo atual não necessitam de guerras e têm muito para fazerem nos seus territórios. Louçã escreveu que podia haver uma guerra naval entre a China e os EUA, mas a China não tem poder naval e aéreo suficiente e os EUA não possuem meios terrestres para fazer guerra a uma grande nação, nem as famílias dispõem de filhos suficiente para morrerem inutilmente numa guerra. Viu-se como os EUA nada conseguiram no Vietname numa guerra num país estreito e bastante pequeno, tando mobilizado muitos jovens que morreram inutilmente para impor um governo de direita num país que nada dizia a qualquer americano.
A China sempre quis voltar a ter a pequena ilha de Taiwan mais umas ilhotas perto da sua costa, mas dada área enorme da China com mais de 9 milhões de km2 e 1,4 mil milhões de habitantes, ninguém vê o que pode o povo chinês ganhar com uma guerra para conquistar a ilha e ainda menos pode ganhar algo com umas estranhas ilhas sintéticas para explorar petróleo do fundo do mar que se compra a preços cada vez mais baixos nos mercados mundiais.
A PAZ é hoje uma condição determinada pela geografia e por não haver muitos territórios para explorar e conquistar. O futuro está na criação da sustentabilidade do nosso Planeta e, eventualmente, na exploração espacial.